A DESPEDIDA DO ZE
30/10/96
Futebol e música são duas grandes paixões nacionais, que transformadas, que transformas em profissões, são objetivo de restrições por parte de muitos, sendo que outros, ainda mais retrógrados, consideram os profissionais nelas envolvidos (músicos e jogadores de futebol) meros cidadãos de segunda classe. Unidos nas delícias e nos infortúnios de duas profissões que tanto tocam os sentimentos dos brasileiros, vira e mexe acontecem as peladas de confraternização entre músicos e “boleiros”, sendo que, na condição de tecladista regular e modéstia à parte, centroavante razoável e artilheiro nato, sempre participei da maioria delas.
José Reinaldo de Lima, o Reinaldo do Atlético e da seleção, ou Zé, para os mais chegados – um gênio da bola e vítima não só das chuteiras criminosas de beques truculentos como também da maledicência que cerca os grandes ídolos, ao encerrar prematura a sua brilhante carreira, resolveu promover em Ponte Nova, sua terra Natal, uma partida entre o 1 de Maio, seu primeiro clube, e um combinado de artistas e jogadores de futebol.
Convidado pelo Zé para técnico da equipe, já que meu peso e a minha idade não permitiam que eu exibisse todo o meu magnífico futebol, parti para a convocação de meus atletas (?), honradíssimo com a missão e sentimento-me tal como Zagalo, ou seja – Deus. Chamei Flávio Venturini, Celso Adolfo, Fernando Brant, Murilo Antunes, Toninho Horta, Tadeu Franco, Cid Ornelas, Robertinho Brant, todos os Borges e muitos outros pernas-de-pau que a minha memória, que não é das melhores, permitiu lembrar.
Uns atenderam à convocação e outros, premidos por compromissos anteriormente assumidos ou, até mesmo, medo do vexame, não compareceram. Enxertando esta verdadeira seleção, chamei ainda o Lincão, ex-profissional da bola e irmão do falecido Geraldo, craque do Flamengo e da Seleção Brasileira, o Ferreti, o pagodeiro mais louro do Brasil, e ainda o compadre Cleber Clark, um dentista poeta de quase 100 quilos, mas de rara habilidade com a bola nos pés.
O meu drama começou na hora de escalar o time, Já que o vestiário foi invadido por gente que nada tinha a ver com o evento e que queria jogar de qualquer maneira, mas, “prestigiado” pelo dono da festa, coloquei em campo o time que minha consciência e as circunstâncias permitiram. Aos cinco minutos de jogo já perdíamos de 2XO, sendo que pouco tempo depois, uma das minhas esperanças, o compadre Cléber, torce o tornozelo, ao pisar em falso num buraco, e sai contundido, para a alegria da multidão que superlotava o estágio.
Lincão , de dentro do campo, me pressionava para colocar o Ferreti, que eu teimava em poupar, tendo em vista a razoável quantidade de álcool ingerida pelo meu ponta-de-lança antes da partida. Fui atende-lo e logo em seu primeiro pique, de uns 30 metros, sem tocar na bola, Ferreti é retirado do campo, vítima de um ruidoso e esquisito acesso de tosse.
Final do segundo tempo, numa jogada de mestre, Reinaldo, o nosso Zé, marca um gol. Foi aí que não me contive. Abandonei meu posto de técnico, peguei uma camisa , tirei um cabeça-de-bagre qualquer e me escalei para maravilhar todos os presentes, cinco minutos que fossem, ao lado do Zé.
Bar do Museu Clube da Esquina – 27/07/2021
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