Por Pablo Castro
Em 7 de junho de 2017
Há na obra do Clube da Esquina um detalhe muito interessante : algumas canções se citam, se perpassam, fazem referência uma à outra. Por exemplo, Cais e Um Gosto de Sol, ambas composições de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, e presentes no célebre LP duplo Clube da Esquina , de 1972, tem o mesmo intemezzo, um tema instrumental que está presente em ambas as composições. Mas não pára por aí : esse tema instrumental , originalmente em tom menor, foi readaptado para um tom maior que virou base de uma outra canção, justamente a que encerra o monumental LP Clube Da Esquina II, de 1978 : Que Bom , Amigo, música e letra de Milton.
Outro exemplo disso é a parte instrumental de Maria Maria ( de 1978), que antes aparecia na versão ao vivo de Nada Será Como Antes , do disco Milagre dos Peixes, de 1974. Ou a recorrência do acompanhamento harmônico do piano de Pablo ( 1973) que volta como base da canção Meu Veneno, de 1992, do álbum Angelus.
Essa reincidência de idéias musicais confere uma unidade e um imbricamento das composições ao longo dos discos, e ao longo da carreira dos artistas, que é notável, e que nos faz viajar numa obra com características “sinfônicas” : porque quando um tema volta, ele volta sempre diferente, como uma recordação de vida, uma coincidência, uma sincronia, que experimentamos muitas vezes em nossas vidas.
Pablo Castro