21/05/2019 – Carolina Ferreira
Integrantes do Clube da Esquina mostram folego com novos shows e álbuns
Milton Nascimento, 76, faz turnê pelo país resgatando o repertório do álbum duplo “Clube da Esquina”, de 1972, disco dividido com Lô Borges, 67, que acaba de lançar um trabalho de inéditas. E Toninho Horta, 70, guitarrista fundamental naquele álbum, lança agora um disco duplo com shows pelo país.
“Clube da Esquina” tem em sua ficha técnica nomes que se destacariam nos anos seguintes, além dos três citados: Beto Guedes, Wagner Tiso, Tavito, Nelson Angelo, Robertinho Silva, os letristas Fernando Brant e Ronaldo Bastos e alguns outros.
Entre as canções, clássicos inquestionáveis da MPB como “Cais”, “San Vicente”, ” O Trem Azul”, “Nada Será Como Antes” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”. A variedade das influências forjou uma singular música mineira, sob comando de Milton.
“A gente revolucionou. O Milton veio com a influência do canto gregoriano e do tempo em que foi locutor de rádio e ouviu tudo de música americana”, lembra Toninho Horta. “O Wagner Tiso era aluno de professora de piano, tem essa aproximação com o clássico, mas era roqueiro. Todo mundo já foi roqueiro um dia, né?”
Lô Borges faz uma análise semelhante. “Tem o pessoal mais roqueiro, influenciado pelos Beatles e pelo rock inglês, caso meu, do Beto Guedes e do Flávio Venturini. E a turma mais da MPB, da bossa nova e do jazz, com Toninho e Nelson Angelo. Mas isso também me atraía. O primeiro disco que me fez pegar um instrumento foi ‘Chega de Saudade’, do João Gilberto.”
Toninho exalta a importância de Milton Nascimento. “Quem juntou isso tudo foi o Milton, que teve a clarividência de chamar os amigos para fazer o ‘Clube da Esquina’. A gente tinha tanta música que o Ronaldo Bastos, que produziu, propôs gravar logo um álbum duplo.”
“Era uma oficina de criação musical”, define Lô. “Quando a gente se juntou, rolou uma química surpreendente. Parecia que todos bebiam da mesma fonte, mas eram pessoas de influências diferentes se ajudando.”
Toninho Horta diz que um revezamento natural construiu o disco. “A gente gravava o dia todo. E as formações nunca coincidiam, porque tinha aquele que acordava tarde e não vinha de manhã, aí outros davam uma saída para comer pizza e não voltavam. Cada faixa tem uma formação diferente. Eu também toquei baixo, o Beto tocou bateria.”
Lô diz que “pessoas talentosas se encontraram num momento mágico”. “Sem ninguém combinar nada, fizeram esse álbum que eu tenho a honra de assinar com o Milton. E seguimos nas colaborações, nos discos que cada um fez depois.”
O álbum que Lô acaba de lançar, “Rio da Lua”, é fruto de um resgate desse companheirismo. Traz dez faixas com letras de Nelson Angelo, outro “sócio” no disco de 1972. Eles passaram quatro décadas sem se encontrar.
“No ano passado, eu fiz um show no Circo Voador. Nelson mora no Rio e eu o convidei. O Milton e o Ronaldo Bastos estavam lá, foi um reencontro emocionante. Dias depois, ele me mandou um texto por WhatsApp e eu resolvi musicar.”
Essa iniciativa rendeu “Partimos”, uma das faixas desse disco romântico e singelo. Todas as canções foram compostas da mesma maneira, a partir de versos mandados pelo WhatsApp, num processo inédito para Lô, que sempre fez primeiro a melodia para depois um parceiro fazer a letra.
O cantor está em atividade constante. Na virada do século, considerou que sua produção fonográfica estava aquém do que gostaria e decidiu intensificar a carreira. De lá para cá, lançou cinco discos de inéditas e três DVDs registrando turnês. Uma delas com Samuel Rosa, do Skank. E outra com Milton, relembrando o Clube.
“No século 21 eu praticamente dobrei a produção que tinha feito no século passado.”
Quem também esbanja produtividade é Toninho Horta. Ele tem oito ou nove álbuns que devem sair nos próximos meses, entre parcerias com músicos brasileiros e estrangeiros, projetos solo e, saindo do forno, o trabalho com a banda que criou em 1981, a Orquestra Fantasma.
O grupo, que tem também Yuri Popoff (contrabaixo), Esdra “Neném” Ferreira (bateria), Lena Horta (flauta) e André Dequech (teclados), lança agora um CD duplo dividido em duas partes, “Belo Horizonte”.
“Belo” resgata músicas importantes na carreira do cantor e guitarrista, como “Beijo Partido”, “Durango Kid” e “Pedra da Lua”. Duas canções famosas, “Saguin” e “Céu de Brasília”, foram registradas agora em versão instrumental.
“Na gravação das bases, estava fazendo o violão e pedi a Lena que fizesse as melodias. Ficaram tão bonitas que decidi deixá-las sem os vocais”, conta Toninho. “Horizonte”, o outro disco do pacote, tem peças instrumentais inéditas.
No longo período de gravação, o difícil foi conciliar agendas. “Fomos muitas vezes ao estúdio, mas, até para justificar o nome de Orquestra Fantasma, não conseguimos nenhuma vez reunir todos juntos nesses dois anos e pouco. Sempre faltava um. Deu um resultado bacana com gravações separadas porque todo mundo sabe como o outro toca, sabe as intenções de cada um quando faz música”, avalia Toninho.
Nos shows deste fim de semana, no Sesc 24 de Maio, o “fantasma” da vez é André Dequech, substituído por Kiko Continentino.
Em setembro, Toninho Horta começa turnê com a orquestra Jazz Sinfônica. Além disso, grava um disco com a cantora e guitarrista italiana Barbara Casini, com músicas de Novelli, compositor que fez parte do Clube da Esquina.
Endereço: Rua Paraisópolis, 738, Santa Tereza, Belo Horizonte, MG
Telefones: (31) 2512-5050 (31) 9 9688-0558