Roteiros Turísticos

O Clube da Esquina I – por Murilo Antunes (parte I)

“Se a gente pegar particularmente Minas Gerais, a música existe antes e depois do Clube da Esquina, o marco definidor é o Clube da Esquina.”

O “Clube I” sai em 72. Eu estava junto com os meninos, com o Marcinho, e ele falou: “nós vamos fazer uma audição do disco que o pessoal acabou de mixar. Vamos lá pra você ouvir”. Cheguei lá e tinha um outro amigo nosso, o Luís Marcio Viana e os Borges. A gente escutou numa casinha que tem atrás da casa do seu Salomão e da Maricota. Todo mundo sentado no chão. Estavam o Bituca, o Ronaldo Bastos. A gente fez essa audição e eu fiquei enlouquecido. Foi nessa hora que eu falei: “É essa turma que eu quero”. Aí já na casa deles e tudo. Não tinha saído o “Clube I” ainda, mas os outros discos do Bituca já. Eu sabia as músicas de cor e a gente cantava, o Toninho tirava elas. A audição foi inesquecível. Até hoje eu me lembro da nossa emoção e do voltar.: “Volta. Vamos ouvir novamente”. Acabava: “Volta, vamos ouvir de novo”. Ninguém arredava. Isso uniu muito a gente, ficamos muito felizes, choramos juntos. O Fernando Brant estava também. O time completo.

O que causou esse tremor nem foi muito essa coisa de Minas. Era o sentido nacional, a revolução que aquela música causava. Ela continha elementos dos Beatles, que todos nós adorávamos, e continha ao mesmo tempo aqueles elementos da espinha dorsal do Brasil, dos nossos grandes talentos, Ary Barroso. Clube da Esquina era um passo adiante da música que estava se fazendo no Brasil. A bossa nova estava instalada. Toda essa coisa do samba-canção, dos boleros, de Ary Barros, Noel Rosa, desaguava na bossa nova. Essa música que eu estava vendo ali extasiado era um passo adiante da música que estava sendo feita no Brasil. Já continha guitarras e os tempos das músicas eram muito perspicazes, diferentes. Você não tinha referencial anterior daquela poética, era água limpa.

A sensação que eu tenho é que a gente estava ouvindo pela primeira vez no mundo esse tipo de música. A revolução da MPB começou aí. Teve outros movimentos como o tropicalismo, bossa nova. O tropicalismo eu não considero um movimento propriamente musical. É mais uma revolução de costumes, de acentuar aquelas coisas do Brasil que as pessoas costumavam desprezar, o brega, a música fora de mercado ou que não era da elite. O tropicalismo pegou uma música do Teixeirinha, “Um coração materno”: “Disse um campônio à sua amada”, acentuou isso, Vicente Celestino. E se criava também coisas legais, o caso do Capinan, do Torquato Neto, que são poetas espetaculares, o Tom Zé, o Caetano, Gil, Nara Leão. Era muito bacana, mas volto a dizer: não tinha a riqueza musical dessa criação que estava começando ali e que eu embarquei.

 

CONTINUARÁ…