Roteiros Turísticos

O PONTO DOS MÚSICOS

ponto dos musicos

Bar do Museu Clube da Esquina – 08/10/2020

FONTE: LIVRO DE MARILTON BORGES – MEMÓRIAS DA NOITE -2001 EDITORA ARMAZÉM DE IDÉIAS

O ponto dos músicos – O encontro de uma geração

O local de nossos encontros era ali na Afonso Pena, entre Tupinambás e Curitiba, do lado oposto do então Cine Arte, depois Royal, e hoje sede, quem diria, de uma igreja, se não me falha a memória. Era lá, no Ponto dos Músicos, que os empresários artísticos da época, os chefes de orquestra e os proprietários de restaurantes e casas noturnas contratavam profissionais da área para alegrar as noites da então jovem Beagá.

A partir da 16, 17 horas, nossa tribo ia chegando; devagarinho e aos poucos, todos os espaços da calçada eram ocupados por pessoas quase todas jovens e aparentemente desocupadas, que, entre alguns olhares cheios de cobiça dirigidos às mocinhas passantes, começavam a tratar do principal assunto das diversas rodas que iam se formando: a música. A maioria dos presentes usava calças escuras e camisas brancas e eu explico a razão da coincidência: naquele tempo, os trabalhos eram acertados, praticamente, no mesmo dia de sua realização, e para quase todos havia a exigência do paletó e da gravata, que nos eram emprestados, então, pelos chefes de conjuntos e orquestras. Dono de banda que se prezasse era obrigado a  possuir um arsenal de paletós e gravatas de todos os tamanhos e cores possíveis e imagináveis, pois tais artefatos sobre a roupinha padrão se constituíam num uniforme pra Glenn Miller nenhum botar defeito, ainda que geralmente, sou forçado a admitir, a combinação daquela miscelânea de tons tendesse mais para o brega do que para qualquer outra coisa.

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Enquanto alguns tratavam de receber o cachê do dia anterior, outros escreviam arranjos sobre as capotas dos automóveis estacionados, com os seus instrumentos e respectivos estojos aos pés, numa cena muito mais apropriada para um mercado persa do que para a principal via de uma pujante e emergente Capital do Terceiro Mundo.

Os bares das redondezas, é claro, botavam gente pelo ladrão a partir das 18, porque, no esplendor dos nossos vinte e poucos anos, era de bom-tom (desculpem o trocadilho) fazermos justiça às más línguas que atribuíam à classe o dom de beber demais. Não sei se como protesto contra a discriminação ou se pelo simples prazer do ato em si,  a verdade é que a gente bebia pra valer, como se aquelas saborosas “louras suadas” fossem os últimos exemplares à venda no planeta.

Alguém poderá perguntar pelos ensaios. Existiam, mas eram raros, já que, se para as músicas mais solicitadas, o que não faltava era partitura, para as demais o que valia mesmo era o “feeling” e a sensibilidade de cada um.

Boscão, Serrinha, Serrote, Helvius, Paulo Horta, Bituca, Gileno, Tulio Silva, Aécio Flávio, Wagner (Tiso), Paulo Braga, Pascoal (Meireles), Márcio José, Celinho, Waltinho, Amador, Bolão, Chumbinho, Bié Prata, Juquinha, Neiva, Sampaio, Jairinho, Zé Geraldo, Teleco, Chá-Chá-Chá, Vitório, Washington, Nivaldo, (Ornelas), Patrício, Bijoca, Tiãozinho, Sílvio Aleixo, Braguinha, Léo Cantor, Lourival “Bocão”, Welton Kelinho Moreira, Vaz, Quellot, Rubinho, Mica, Aníbal, Ênio Bretas, Pituca, Balona, Marquinho, “Minhoca”, Rogério “Marmota”, Hugo Luiz, Nazário, Alemão, Ildeu, Jamil (joanes), Plínio, “Ceguinho”, Violão, Miranda, Maluf, Figo Seco, Dino, Zé Guima, Gastão e Gilberto Sant’Ana.

Esta é a lembrança dos nomes de mais ou menos sessenta companheiros, entre centenas de outros que dignificaram, com seu talento, a história da música popular na noite de Beagá, e, desde já, minhas sinceras desculpas pelas prováveis omissões. Todos eles frequentadores assíduos e sócios beneméritos do Ponto dos Músicos. Uns ainda estão por aí, a tocar com sua arte o coração das pessoas, sendo que outros já reforçam a Grande Orquestra Superior. A eles, na sua integralidade, meu carinho e respeito por terem me dado a honra de registrar, fraternalmente, seu trabalho e sobretudo, alegria e emoção-um retrato bonito e singelo de canções e momentos que encantaram toda uma geração.