Bar do Museu Clube da Esquina – 08/10/2020
FONTE: LIVRO DE MARILTON BORGES – MEMÓRIAS DA NOITE -2001 EDITORA ARMAZÉM DE IDÉIAS
Éramos oito. Mas o nome da banda era Gemini VII, que, na sua formação mais conhecida, tinha Eduardo Prates nos teclados, IIdeu Lino no contrabaixo, Rubinho na bateria, Maluf nas congas, Marquinho Moreira no vibrafone, o saudoso Toninho Costa na guitarra, Getúlio no sax e ainda o papai aqui nos vocais. Nomes ilustres como Helvius Vilela, Jamil Joanes e Márcio José também participaram – ainda que em pequenos períodos – do grupo, que teve a presença, também, em canjas esporádicas, dos então desconhecidos e hoje megaestrelas Bituca (Milton Nascimento) e Naná Vasconcelos.
Nos anos 60, não houve em Belô festa importante ou clube recreativo que não contasse com o som característico da banda, que, com aquele naipe inusitado vibrafone e sax, aliado ao suingue inconfundível de base poderosa, dava a qualquer canção que se interpretasse uma sonoridade absolutamente diferenciada da dos demais conjuntos musicais da época.
O interior do estado também reconheceu, em pouco tempo, o valor da turma, sendo que os fatos mais pitorescos e interessantes aconteceram exatamente nestas viagens, como o que passo a contar a seguir.
Patos de Minas comemorava sua tradicional Festa do Milho e mais, iria inaugurar o mais lindo clube social do interior, o Caiçara, fatos que ensejaram a contratação do Gemini VII.
Músicos em trajes de gala, convidados idem, a fina flor da sociedade local presente, presenças ilustres e começa a festa. A solenidade da inauguração propriamente dita e os inevitáveis discursos ficariam para meia-noite, quando haveria a também inevitável queima de fogos de artifício e demais procedimentos solenes, próprios para ocasiões como aquela.
Meia-noite, interrompido o baile, assume o microfone nosso locutor oficial, que, com sua voz levemente abaritonada, deu início ao desastre:
– É com muito prazer que o Gemini VII participa desta maravilhosa festa aqui em Passos de Minas…
– O fulano, não é Passos, é Patos, cochichou alguém.
Foi o que bastou para que ele se atrapalhasse de vez:
– Patos de Caldas, retrucou ao microfone.
E, a partir daí, quem disse que o nosso bravo locutor conseguiu pronunciar o nome da cidade? E tome Patos de Poços, Caldas de Minas, Minas em Caldas, Patos em Caldas, Patos de Potos, Passos de Poços, Poços de Passos e todas as combinações mais que sua mente, já embalada por uma ou duas doses de uísque do bom, poderia produzir.
A mesa das autoridades, comandada por um general de muitas estrelas e à bèira de um ataque do coração, de tanto dar risada, descontraiu´se como que por encanto, sem entender direito se aquela cena fazia parte de um número humorístico muito bem bolado ou se aquilo estava acontecendo na base da geração espontânea, na voz de um gênio do improviso.
Seja lá o que aconteceu no dia seguinte, em termos de repercussão na cidade em torno do ocorrido, a verdade é que, a partir daquela data, o Gemini VII nunca mais tocou em Patos de Minas. Ou Passos? Ou Poços?