Roteiros Turísticos

Minha primeira composição nos tempos de repressão

Por Murilo Antunes

Em 4 de julho d e 2017

 

  1. O Brasil passava pelos anos de chumbo da ditadura. Censura prévia, prisões aleatórias, torturas, assassinatos.

Eu,  com 19 anos, fora inscrito no festival da canção de Cataguases, interior de Minas, com minha primeira composição, em parceria com Sirlan, com quem compus também “Viva Zapátria”. A música se chamava “Super Herói”.

 

Tirei férias do banco em que trabalhava (e nunca mais voltaria), peguei a grana e comprei as passagens de ônibus para a banda: Beto Guedes (baixo), Tulio Mourão (teclado), Toninho Horta (guitarra) e o parceiro Sirlan na bateria. Um bandão.

 

Em Cataguases, 5 da manhã,  os 5 cavaleiros do após-calypso  embarcam numa charrete até a casa que nos hospedaria. No Festival, a música passou para as finais, mas o que chamou a atenção de verdade foi a apresentação da Equipe Mercado, um grupo performático que ocupou o palco e a plateia durante quinze minutos espetaculares. Uns vestidos de mendigo, outros fantasiados, faziam uma espécie de “teatro do oprimido”, que Augusto Boal eternizou.

Ao fim da apresentação da trupe, a polícia já estava na porta do cinema, pronta para prender aqueles performers. Foi preciso todos nós concorrentes fecharmos um círculo em volta deles. A ideia era: se eles forem presos, nós não participamos do festival e o evento vai pro beleléu. Deu certo. Mas a Equipe Mercado foi obrigada a ir embora da cidade, expulsa por ter caído nas graças da plateia e do júri.

 

Ao final, um dos vencedores, o baiano Capinam, deu o prêmio de 10 mil dinheiros ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR8. E eu fiz minha estreia na MPB.