Projetos Culturais

O negro e o índio na arte de Minas

Por Murilo Antunes

Em 28 de agosto de 2017

 

O NEGRO E O INDIO NA ARTE DE MINAS.

 

GTO. O INDIO E OS SONHOS DE MADEIRA.

 

 

 

 

 

 

A força e o poder da nossa arte são reconhecidos até além mar. Sem qualquer pretensão de alinhavar conceitos e análise critica, vou lembrar aqui dois artistas esplendorosos gerados por nossa Minas Popular Brasileira.

 

O primeiro, Geraldo da Silva Teles, o nosso GTO. Minas  celebra mais de 100 anos deste belo artista, que começou a esculpir aos 55 anos. Desde a  adolescência, sou fascinado com o trabalho deste índio genuíno, que nasceu em Itapecerica e passou a vida em Divinópolis.

O mais incrível: GTO esculpia sonhos: dormia, sonhava as esculturas e, ao acordar, as tornava realidade.

O cinzel mágico de GTO criava rodas de madeira e peças únicas, sem emendas, no formato de mandalas, ora humanizadas, ora mostrando bichos e formas da natureza. O homem no trabalho, bichos no mato, tocadores de viola, onça engolindo cobra engolindo onça, o universo interior brasileiro cravado na madeira crua.  Organicidade, paixão pelo que fazia, estilo próprio admirável, tudo isso é pouco para falar de Geraldo Teles de Oliveira.

Como bom brasileiro, faço viagens pelo universo indígena. O respeito às suas questões e às nossas raízes me levou a compor com Flavio Henrique, uma música chamada “Mayabê Ypó Cori” (Não Sei O Que Será), em tupi-guarani, gravada por Marina Machado e pelo Trio Amaranto, no CD “Aos Olhos de Guignard”, com a qual homenageio GTO.

 

JORGE DOS ANJOS. ÁFRICA DE FERRO E ALMA NEGRA.

Encontrar com Jorge dos Anjos sempre foi algo fascinante, pela sua alegria, seu espírito de luz. O magnífico escultor dos ferros reproduz signos e símbolos africanos com extrema densidade, mistura fogosa de Minas com África.  Pequenas ou gigantes, suas esculturas interagem com os ambientes e, ao mesmo tempo, sobressaem e atraem nosso olhar.

Hoje é um artista consagrado, procurado por agentes internacionais, com prestígio que não tirou dele a simplicidade da qual fez a sua razão de arte.

 

 

Fiz duas perguntas ao amigo Jorge dos Anjos que, solícitamente, me enviou as respostas.

 

  • O que você vê na obra de GTO?

 

Jorge dos AnjosGTO construiu em seu tempo uma das mais importantes referências para a arte mineira. Nascida de um sonho, como ele mesmo disse, se auto-retratou índio e negro numa obra absolutamente original e verdadeira.

 

        2) O que te inspira?

Me inspiro na vida, muitas vezes nas dificuldades, nos problemas, desencontros e frustrações. Muitas vezes na alegria, na beleza, no sexo, na religião e no próprio trabalho.

Assim como GTO, vivo de sonhos.

 

 

POETA DO DIA

ADÃO VENTURA

 

Poeta negro de Santo Antonio do Itambé, distrito do Serro. Contundente com seus versos-lâmina, denuncia com sua bela poesia a nódoa da opressão sofrida pelos escravos. Muitas vezes a gente se embebedava de poesia nas ruas de BH. Tesouro raro da nossa Minas Popular Brasileira.

 

 

FAÇA SOL OU FAÇA TEMPESTADE

 

faça sol ou faça tempestade,

meu corpo é fechado

por esta pele negra.

 

faça sol ou faça tempestade

meu corpo é cercado

por estes muros altos,

— currais

onde ainda se coagula

o sangue dos escravos.

 

faça sol

ou faça tempestade,

meu corpo é fechado

por esta pele negra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um pensamento sobre "O negro e o índio na arte de Minas"

  1. muito bom seu site gostei muito do seu conteúdo.Vou passar mais vezes para ver as atualizações.abraço para vcs.

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